R7 • Na América do Sul, reeleição de Dilma é vista com “alívio” e “ressalvas” • 27/10/2014

Autoridades e empresários do Mercosul comentaram a vitória da presidente.

A reeleição da presidente Dilma Rousseff foi recebida com “alívio” por governos e parte da iniciativa privada de outros países da América do Sul, embora a atuação da petista para a região seja há muito alvo de algumas ressalvas, já que sua postura é apontada como “fria” em relação aos sócios do Mercosul, além de Chile e Venezuela.

“É um alívio. Com Dilma na Presidência do Brasil sabemos que a onda neoliberal, que defende as privatizações e que olha pouco para distribuir renda, foi novamente derrotada”, disse o senador uruguaio Luis Gallo, de 80 anos, da base governista Frente Ampla.

O mesmo tom foi observado na Bolívia, onde existia preocupação com uma possível relação “tensa” com o Brasil caso Aécio Neves tivesse sido eleito.

“A agenda política e econômica que temos agora certamente passaria a ser focada no combate às drogas. Não que não faça sentido, mas tudo seria mais tenso”, disse o analista político boliviano Javier Gómez, do Cedla, de La Paz.

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Na Venezuela, uma eventual vitória de Aécio também era vista como um possível complicador para as relações bilaterais, embora políticos e analistas cobrem de Dilma uma postura mais ativa para a região.

Veja como o resultado das eleições no Brasil está sendo encarado por alguns de nossos principais parceiros na América do Sul.

Argentina

Principal destino das exportações industriais brasileiras, a Argentina mostrou opiniões divididas em relação à reeleição da presidente Dilma.

Entre políticos apoiadores da presidente Cristina Kirchner, a vitória de Dilma nas urnas foi vista como boa notícia regional. “É a certeza de que o diálogo continua”, disse o assessor de um governador que apoia a presidente Cristina Kirchner.

Mas entre alguns economistas, não se percebeu a mesma simpatia. “A economia brasileira está crescendo pouquíssimo. O país precisa de investimentos e de reformas. Precisa recuperar a confiança do investidor. E o mercado financeiro deixou claro durante a campanha eleitoral que preferia Aécio Neves e não Dilma. E por isso a reeleição não é uma boa notícia”, disse o economista argentino Orlando Ferreres, da consultoria Ferreres e Associados.

Para o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb, o quadro atual da relação econômica e comercial bilateral não tende a mudar antes das eleições de outubro do ano que vem na Argentina. “O Brasil tem uma agenda interna própria na área econômica e qualquer mudança só ocorrerá com o novo governo na Argentina”, disse.

A analista política Graciela Romer disse, por sua vez, que não espera grandes mudanças na relação atual entre o Brasil e a Argentina.

— O Brasil é hoje uma potência e a Argentina já não é uma de suas prioridades. A relação é morna e não percebo mudanças.

Os dois países enfrentam hoje dificuldades na agenda econômica, com queda no comércio bilateral e queixas do lado brasileiro com atrasos nos pagamentos dos importadores argentinos aos exportadores brasileiros e contra também as barreiras comerciais impostas pelo país vizinho.

Bolívia

O presidente reeleito Evo Morales tem afirmado que seu país mantém hoje uma boa relação com o Brasil, apesar de mais distante frente ao período em que Lula era presidente e visitava o país com frequência. Durante os quatro anos do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a presidente não visitou o país nenhuma vez.

“Brasil e Bolívia têm uma relação fluida mas sem a intensidade política que existia nos tempos de Lula”, disse José Luis Gálvez, do instituto Equipos Mori.

Na Bolívia, a expectativa é que a presidente reeleita retome a discussão de acordos na área de infraestrutura entre os dois países. Ao mesmo tempo, segundo especialistas, não são esperadas mudanças no acordo entre a Petrobras e a petrolífera estatal YPFB, cujo contrato atual termina em 2019.

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Como a Bolívia foi citada pelo então candidato Aécio Neves como um país produtor de drogas que seriam enviadas para o mercado brasileiro, espera-se que a questão ganhe “maior peso” na agenda bilateral.

“Hoje, o governo Dilma está atento ao assunto, mas depois que a questão foi abordada na campanha, a expectativa é de que o tema entre mais forte na agenda bilateral. Mas sem a pressão que Aécio prometia exercer diretamente sobre o governo boliviano”, diz Javier Gómez, do CEDLA (Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário).

Chile

Políticos e analistas chilenos afirmam esperar uma “retomada” da relação mais fluida com o Brasil. Hoje, eles definem a relação bilateral como “fria”, já que a presidente Dilma Rousseff não realizou visitas ao país durante a gestão do ex-presidente Sebastián Piñera, de centro-direita, e ainda “não mostrou” que terá relação “mais próxima” com a atual presidente Michelle Bachelet, que voltou ao cargo em março passado.

“O que mais esperamos aqui é que Dilma volte a estabelecer com o Chile a relação histórica de amizade que sempre houve entre os dois países”, disse o professor de Ciência Política Ricardo Israel, da Corporação de Universidades Privadas do Chile.

Para ele, em termos de “afinidade ideológica” a vitória de Dilma “certamente” é comemorada pelo governo de Bachelet que, segundo ele, torcia por este resultado.

O professor de Ciências Políticas Guillermo Holzmann, da Universidade de Valparaíso, disse que os dois países registram hoje forte relação comercial, que cresceu nos últimos tempos, e que o mesmo ocorre em termos de turismo bilateral.

Holzmann ressalvou, no entanto, que a relação política é “distante”, o que não acontecia nos tempos de Lula na Presidência do Brasil.

Paraguai

Analistas paraguaios acreditam que não haverá “grandes mudanças” na relação bilateral no segundo mandato de Dilma Rousseff.

Hoje, eles definem a relação como “correta” e “tranquila” mas “sem muita aproximação política”, o que ocorria nos tempos de Lula e de Fernando Lugo na Presidência paraguaia, afirmou o colunista do jornal Ultima Hora Alfredo Boccia.

“O atual governo [de Horacio Cartes] já deixou muito claro, e várias vezes, que quer uma relação mais intensa com o Brasil, com mais empresas brasileiras aqui e maior aproximação política com o governo de Dilma. Mas, na prática, essa maior aproximação ainda não ocorreu. Quem sabe no novo governo de Dilma”, disse Boccia.

Para o analista Francisco Capli, do instituto First y Analisis, os dois países têm hoje uma “relação fria” com Dilma na Presidência e “nada deverá mudar muito” com a reeleição.

Uruguai

No Uruguai, políticos da base governista Frente Ampla comemoraram a reeleição da presidente Dilma Rousseff dizendo que significa a “continuidade da atual boa relação com o Uruguai”.

O país votou no primeiro turno das eleições presidenciais no mesmo dia em que o Brasil foi às urnas no segundo turno da votação.

“É um alívio”, disse o senador governista Luis Gallo, de 80 ano.

— Nosso temor era que um governo mais liberal no Brasil retomasse a onda de privatizações, menor presença do Estado e menor preocupação com a distribuição de renda que já tivemos na região.

Segundo ele, existe hoje uma “onda progressista” na região com o Brasil na liderança, devido ao seu tamanho econômico e populacional.

O historiador e professor da Universidade de La República Gerardo Caetano disse que a continuidade de Dilma significa que o Mercosul não deixará de ser união aduaneira para ser uma zona de livre comércio, como defendia Aécio Neves.

“O que temíamos era que Aécio chegasse para mudar algo que não foi fácil de construir”, disse Caetano. Ele lembrou que o atual presidente José “Pepe” Mujica, que está concluindo o mandato, chegou a dizer durante a reta final da campanha eleitoral no seu país que a eleição no Brasil era tão importante para os uruguaios como o seu próprio pleito.

Mujica disse ainda a interlocutores que a eleição de Aécio seria “um desastre” para a região.

Venezuela

A reeleição da presidente Dilma Rousseff foi comemorada no Palácio de Miraflores em Caracas. Uma eventual derrota do PT era vista pelo governo venezuelano como um elemento “desestabilizador” que poderia não só colocar em risco as relações entre Brasília e Caracas, mas principalmente fragilizar as ligações com os governos que estão à esquerda no tabuleiro político regional.

A permanência de Dilma na Presidência, no entanto, impõe novos desafios para a agenda bilateral e regional. E não são poucos. Na avaliação de diplomatas, empresários e analistas políticos, Dilma tem de abandonar uma postura em que as relações com os países vizinhos seguem de maneira “inercial” as políticas de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso uma política mais agressiva, mais assertiva. Essa inércia bastou para esse primeiro período, mas agora é preciso avançar”, afirmou o economista Pedro Barros, titular da missão do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Venezuela.

De acordo com o economista do IPEA, espaços de integração como a Unasul e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) necessitam de uma estrutura mais dinâmica e efetiva para atender às demandas regionais no campo político e econômico.

— A Unasul está criada, mas não tem um braço financeiro que poderia ser o Banco do Sul. A Celac é meramente um espaço de concertação. É possível ir além.

A Venezuela também espera mais ousadia da diplomacia brasileira para ampliar o comércio bilateral.

“O Brasil deveria estudar mais de perto a experiência da China aqui na Venezuela”, afirmou uma fonte do governo, citando os investimentos em infraestrutura feitos pelo país asiático e afirmando que uma maior participação de investimentos brasileiros na Venezuela seria desejável.

Com a economia em crise, à Venezuela interessa atrair novos investimentos nas áreas de produção de pequenas e médias indústrias.

“Esse é um espaço que precisa ser ampliado com os países que temos alianças políticas estratégicas, e o Brasil é um deles”, afirmou o funcionário do governo.

Os empresários brasileiros que desenvolvem projetos na Venezuela também apostam nisso. Diretores de grandes projetos em desenvolvimento no país comemoraram a reeleição de Dilma.

“A reeleição da Dilma é o melhor para nós”, afirmou à BBC Brasil o diretor de uma das grandes empresas brasileiras no país.

Um dos temores do setor é de que uma mudança na Presidência colocasse em risco o esquema de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) responsável pela internacionalização das empresas brasileiras.

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