BBC Brasil • Integração regional idealizada por Chávez fracassou, dizem analistas • 11/03/2013

Integração regional idealizada por Chávez fracassou, dizem analistas

Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
Atualizado em 11 de março, 2013 – 17:01 (Brasília) 20:01 GMT

A integração latino-americana nos moldes idealizados por Hugo Chávez durante os 14 anos em que esteve à frente da Venezuela não foi concretizada, e em geral seus projetos nesse sentido tiveram efeito limitado e entram agora num momento de incerteza, avaliam analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Essa é a opinião consensual do boliviano Javier Gómez, do Centro de Estudos do Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA, na sigla em espanhol), do chileno Guillermo Holzmann, professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile, em Santiago, e do uruguaio Marcel Vaillant, professor de Comércio Internacional da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, em Montevidéu.

Eles concordam que os discursos e os projetos de Chávez obtiveram “ampla ressonância” mas, na prática, tiveram poucos efeitos.

Para Vaillant, a atuação do venezuelano no plano regional acabou dividindo mais a América Latina. Já Holzmann avalia que os projetos de Chávez, como a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da América) não “vingaram” por “questões econômicas”.

Organizações regionais

Durante o governo de Chávez surgiram a Alba, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e o Banco do Sul, ligado à Unasul – bloco apontado como iniciativa brasileira que esteve presente em momentos de turbulência política como no Equador, que em 2010 teria sido alvo de uma “tentativa de golpe” contra o presidente Rafael Correa.

Defensores destes projetos entendem que eles significam, “no mínimo”, uma “semente” rumo a uma maior integração regional.

Entre os países que formam a Alba – criada como uma alternativa à Aliança de Livre Comércio das Américas (Alca) – estão, além da Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras.

Para o boliviano Javier Gómez, a participação de seu país na Alba provocou um aumento de comércio com a Venezuela e o Equador, mas teve poucos efeitos práticos além disso.

“A Bolívia importou gasolina e diesel com preços preferenciais da Venezuela e papel higiênico de uma multinacional instalada no Equador. A Alba não significou muito mais, além de representar a afinidade ideológica de seus governantes”, disse Gómez.

Para ele, Chávez “protegia” o presidente boliviano Evo Morales, que sentia este “respaldo” em questões bilaterais da Bolívia, como as disputas territoriais com o Chile ou a relação com os Estados Unidos.

“Para Evo, o baque da morte de Chávez foi muito grande. Mas na prática as mudanças econômicas para a Bolívia não foram tão significativas. Em termos de compra de combustível com preços preferenciais, outros países são mais dependentes da Venezuela, como Cuba, Nicarágua e outros da América Central”, afirmou o analista boliviano.

Para ele, as ideias e os discursos de Chávez não mudaram a “dinâmica econômica e social” da América Latina.

Unasul e Mercosul

Vaillant acha que a Alba “não saiu do papel” e a Unasul já “patinava” mesmo antes da morte de Chávez.

“Acho que no período de Chávez a retórica sobre integração cresceu, mas na prática a América Latina se desintegrou. A catarata de anúncios e reuniões refletiram as intenções dos governantes, mas não as políticas de longo prazo ou a institucionalização das ideias que defenderam”.

“Um exemplo claro é o Banco do Sul, que é uma repetição da Cooperação Andina de Fomento. Ou seja, o banco é um projeto que já existia e funcionava”, diz o analista.

Para ele, a integração física, com maior infraestrutura ligando a região, também está “aquém dos anúncios feitos” e, contrariando o “enterro” promovido por Chávez, o professor acredita que a Alca ainda existe.

A iniciativa do venezuelano de se aproximar do Mercosul provocou divisões entre os analistas. Para Gómez, o Mercosul foi “fortalecido” com a entrada da Venezuela e a chegada “garantida” da Bolívia ao bloco.

Contudo, na visão de Vaillant, o bloco econômico saiu “institucionalmente enfraquecido” ao suspender o Paraguai para integrar a Venezuela.

Comércio e independência

Vaillant destaca que na última década diversos países da região intensificaram suas relações comerciais com parceiros distantes, com acordos de livre comércio celebrados com países asiáticos e até com os Estados Unidos.

“A América Latina ficou mais dividida e, no lugar de evolução houve uma involução para refundar a pátria (“grande pátria”, como alguns definem a América Latina)”, declarou.

Na visão do analista, projetos como a Alba geraram “tensão” em outros blocos, como o Mercosul, e “não significaram avanços”.

Holzmann afirmou que o objetivo de Chávez, em termos de integração, era “obter autonomia e independência” dos organismos financeiros e de cooperação administrados pelos Estados Unidos.

“No entanto, a integração associada à Alba e ao Banco do Sul só tinha sentido entre os próprios países que formavam o clube de seguidores de Chávez e dependiam diretamente da capacidade financeira da Venezuela. Era uma proposta de integração limitada”, afirmou Holzmann.

Para o analista chileno, estas iniciativas “dificilmente poderão se manter como opção (a outros órgãos) ao não existir o financiamento da Venezuela, que enfrenta problemas internos de desequilíbrios econômicos”, disse.

Além disso, sem Chávez, as ideias de integração entram “na era das incertezas”, opinou Holzmann.

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