BBC Brasil • Brasil será decisivo para estabilidade regional pós-Chávez • 11/03/2013

Brasil será decisivo para estabilidade regional pós-Chávez

Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
Pablo Uchoa
Enviado especial a Caracas
Atualizado em 11 de março, 2013 – 17:06 (Brasília) 20:06 GMT

Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deixou um vazio político na América Latina que pode ser ocupado pelo Brasil, o qual deve assumir agora um papel decisivo para manter a estabilidade regional.

Para Guillermo Holzmann, professor de ciências políticas da Universidade do Chile, “o Brasil exerce uma liderança natural na região, que é expressada em uma rede de influência e de forma discreta”, disse Holzmann. “O Brasil tem interesses voltados para ser um ator mundial e, na região, para ser um orientador e articulador dos países.”

Ele acrescentou que, no entanto, (a partir de agora) “o Brasil deve atuar para manter a estabilidade regional e impedir a radicalização”, o que significa, reiterou, “uma influência discreta, mas eficaz, sobre vários países”.

Neste novo cenário, por exemplo, o Brasil poderia ter uma maior participação nas negociações com o grupo guerrilheiro colombiano Farc.

Por sua vez, Marcel Vaillant, professor de comércio internacional da faculdade de ciências sociais da Universidade da República do Uruguai, acredita que seria “útil” para a América do Sul que o Brasil “voltasse a liderar a região (como um todo) porque assim as instituições democráticas e dos blocos (como Mercosul) estariam garantidas muito além da intenção política dos governantes”.

Entre os especialistas e observadores, comenta-se que o Brasil será fundamental na etapa de transição venezuelana, pelo menos até a eleição presidencial de 14 de abril.

Substituindo Chávez

Holzmann analisa que a morte de Chávez gera maior impacto entre os países que formam a Alba (Aliança Bolivariana das Américas) e nos chamados “movimentos bolivarianos” que respondiam principalmente ao líder venezuelano.

Em declarações a jornais venezuelanos e argentinos, o cientista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela (UCV), disse, nesta semana, que Chávez “captou o apoio de alguns governos, mas ele sempre esteve limitado pela eficaz diplomacia brasileira”.

No entender do analista chileno, o Brasil não assumirá agora o papel de Chávez, embora o venezuelano “precise de um sucessor no cenário latino-americano”.

Ele crê que dificilmente líderes brasileiros, sendo Lula ou Dilma, aceitariam as propostas do “socialismo do século 21” e a “revolução bolivariana” defendidas pelo venezuelano.

Vaillant especula que o vazio deixado por Chávez “poderá ser ocupado por outro presidente, como Cristina Kirchner, junto aos que formam o eixo bolivariano, caso o Brasil não preencha esse espaço”.

Esquerda ‘vermelha’ X esquerda ‘rosa

A morte de Chávez também vem reavivando as discussões comparativas entre as políticas de Chávez com as da chamada esquerda “rosa”, mais afeita às regras de mercado e menos ativista no campo do anti-imperialismo, e que tem Lula como seu expoente máximo.

Muitos questionam se o desaparecimento do maior expoente da esquerda “vermelha” na América Latina implicará uma mudança no equilíbrio de forças que beneficie a esquerda “rosa” no continente.

Para o diretor do Interamerican Dialogue, Michael Shifter, esse embate já se resolveu “há alguns anos”, à medida que o modelo brasileiro de capitalismo com preocupação social gerou frutos econômicos e fez avançar o desenvolvimento do país, ao passo que o modelo venezuelano teve como efeitos colaterais uma elevação das tensões e o aprofundamento das dependências econômicas do país.

A Venezuela de Chávez deve grande parte de sua influência no continente a iniciativas de economia solidária – “bolivariana” – pelas quais ajuda países economicamente mais frágeis e vulneráveis, como os centro-americanos e caribenhos.

Muitos consideram que a mais bem sucedida destas é a Petrocaribe, um acordo regional que permite aos países receber petróleo venezuelano a preços especiais, pagando em prazos longos e em espécie, com produtos que vão de arroz e feijão a calças de vestir.

‘Influência em declínio’

Um novo governo bolivariano provavelmente manterá os contratos anteriores, firmados sob a ideologia chavista, maior legado de Chávez.

Mas mesmo se não for esse o caso, Shifter não crê que outros países da região, como o Brasil ou os EUA, se voluntariem necessariamente para preencher o vácuo.

“Creio que a Venezuela experimentará um declínio de influência na região, mas não creio que nenhum outro país vai querer preencher esse vácuo”, afirma.

“Ninguém tem os recursos petroleiros que a Venezuela tem, e ninguém tem a visão e a ambição que Chávez tinha em termos de como usar esses recursos”, diz.

Além disso, não obstante o viés ideológico das iniciativas, nenhuma requer que os países aceitem replicar domesticamente o modelo de socialismo venezuelano.

Ou seja, os países podem perfeitamente aceitar os benefícios concedidos pela Venezuela e ainda assim manter os olhos no modelo brasileiro.

Shifter descreve esta situação como “puro pragmatismo”.

“Estes são países que estão diante de desafios econômicos enormes, e procuram, compreensivelmente, tirar proveito de todas as opções”, avalia. “Para eles, não se trata de estar de um lado ou de outro.”

Para ver la página de origen haga click aquí.

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *