BBC • Como ‘votam’ os vizinhos do Brasil nessa eleição •04/10/2014

Analistas apontam para possíveis mudanças nas relações a partir do resultado das urnas

A eleição presidencial no Brasil é observada com atenção pelos países vizinhos, e analistas apontam para possíveis mudanças nas relações a partir do resultado das urnas.

Governos da América do Sul têm preferência à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) por não saberem o que esperar dos outros principais candidatos, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), disseram observadores regionais ouvidos pela BBC Brasil.

“[O argumento predominante] é que é melhor lidar com quem se conhece do que com o desconhecido”, disse Mariana Pomies, analista política uruguaia e diretora do instituto Cifra, de Montevidéu.

— Dilma é uma figura conhecida, muito respeitada aqui e braço direito de Lula, que é muito conhecido entre os uruguaios. Marina Silva, por exemplo, é para nós um sinal de interrogação.

Alianças regionais também poderiam sofrer um impacto com a vitória dos rivais de Dilma, segundo analistas. Seria o caso, por exemplo, do Mercosul, bloco que reúne cinco grandes economias da região.

— (Eles poderiam) rever a consistência do Mercosul. Especialmente Aécio, para quem o Mercosul é um bloco anacrônico. Nesse sentido, acho que para a região (uma vitória de Aécio ou Marina) não ajudaria muito.

Para Diego Guelar, ex-embaixador da Argentina no Brasil, qualquer que seja o resultado da votação, haverá um impacto direto na política para os países vizinhos.

— Seja Dilma, Aécio ou Marina, entendo que o Brasil deverá ter uma política externa diferente com a região. Porém, o governo Dilma esteve muito centrado na Argentina e na Venezuela, deixando outros países de lado, como Chile e Colômbia e Peru. Seja Dilma ou quem for, algo novo nesta política vai surgir depois desta eleição.

Para outros especialistas, a escolha de um novo presidente poderia trazer “um ar fresco” para a relação bilateral entre o Brasil e seus vizinhos.

Veja quais são os intereses dos principais países da região sobre o próximo presidente do Brasil.

Argentina

Em Buenos Aires, a percepção é a de que, com Dilma, a relação bilateral já é “conhecida”, apesar de muitos analistas acreditarem ser improvável haver grandes alterações na política entre os dois países com a vitória de qualquer outro candidato.

O ex-vice-ministro das Relações Exteriores Andrés Cisneros disse que não acredita em “mudanças bruscas” na relação, já que o Brasil conta com políticas de Estado na sua política externa.

— Não acreditamos em mudanças vindas do Brasil de um dia para o outro.

Nesta semana, o jornal La Nación, de Buenos Aires, publicou que a atual relação entre a Argentina e o Brasil não está em seu melhor momento, afetada pelo menor crescimento econômico dos dois países e a queda acentuada no comércio bilateral.

Segundo o jornal, “a relação dos dois países está afetada, seja quem for o próximo presidente brasileiro. Mas para analistas, o Mercosul perderia ainda mais força se Marina for eleita”.

Para o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, de Buenos Aires, “com a relação entre Dilma e Cristina deteriorada pelos conflitos comerciais, nada mudará se a atual presidente vencer a eleição”.

— Mas com uma eventual vitória de Marina, por exemplo, talvez essa relação seja ainda mais difícil.

Bolívia

A relação econômica entre o Brasil e a Bolívia está baseada principalmente nas exportações do gás boliviano para o mercado brasileiro.

Este setor inclui a forte presença da Petrobras na Bolívia, como observou o analista Javier Gomez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (Cedla, na sigla em espanhol).

— Marina Silva disse que se eleita vai dar transparência à Petrobras e ao BNDES. São dois setores com forte ligação com a Bolívia. E mesmo em um curto período, sua política poderia afetar o curso desta relação bilateral.

Para ele, hoje, há “maior previsibilidade” à relação bilateral com Dilma na Presidência. “Hoje a relação entre os dois países não é a ideal, mas já sabemos como é”.

Chile

Analistas políticos e diplomatas chilenos observaram que a relação política entre Brasil e Chile foi distante durante o governo Dilma, mas que, apesar disso, o Brasil passou a ser o principal destino dos investimentos diretos chilenos no exterior.

Segundo o analista internacional e cientista político Ricardo Israel, da Corporação de Universidades Privadas do Chile, seja Dilma, Marina ou outro candidato, o principal é que o próximo presidente recupere a relação que no passado foi intensa com o Brasil.

O professor de ciências políticas da Universidade de Valparaíso Guillermo Holzmann disse que a reeleição de Dilma significa “estabilidade” na região e que outro presidente significaria “incerteza”.

Paraguai

Assim como na Bolívia, a relação com o Brasil passou a ser “mais intensa” depois que o ex-presidente Lula chegou ao Planalto em 2003, com a maior presença de empresas brasileiras e investimentos em setores como o de infraestrutura ligando a vizinhança ao Brasil.

Na opinião de políticos de diferentes tendências e analistas, o Brasil é o irmão maior e o principal sócio do país, como costumam afirmar.

Mas para o analista Francisco Capli, da consultoria de pesquisas de opinião First Analisis, “a relação atual passa por um momento frio, distante”. E seja qual for o próximo presidente, espera-se uma maior aproximação. Ele observou, porém, que Dilma já é conhecida dos paraguaios.

Tradicionalmente a relação entre os dois países esteve centrada na hidrelétrica de Itaipu e nos chamados ‘brasiguaios’ — brasileiros e seus descendentes que vivem no Paraguai. Mas, nos últimos anos, a presença de empresas brasileiras no país vem chamando atenção. Algo que, de acordo com os especialistas, não se traduz em “maior aproximação politica” com o Brasil.

Uruguai

O maior conhecimento sobre as políticas e trajetórias de Lula e Dilma é apontado como “fator essencial” para que os uruguaios “votem” na continuidade do PT na Presidência, disse a analista Mariana Pomies, socióloga e diretora do instituto Cifra, de Montevidéu.

— Aqui sabemos muito pouco sobre os outros candidatos. O que gera dúvidas, naturalmente. Dilma é a continuidade. E hoje a relação entre o Uruguai e o Brasil é muito boa.

Segundo ela, no caso do Uruguai há ainda outro fator que pesa “contra o voto” em Marina: sua figura estar associada à sua religiosidade.

O Uruguai é um país laico desde o início do século 20, quando crucifixos foram retirados de gabinetes, organizações públicas e hospitais, por exemplo, para oficializar a separação da política de Estado da religião.

— Para nós, é impensável saber a opção religiosa de um candidato, de um político. Política é política. Mesmo quando eles vão à missa, por exemplo, é algo muito pessoal”.

Venezuela

A imprevisibilidade da votação no Brasil coloca em alerta o governo venezuelano, que viu crescer e fortalecer as relações econômicas e políticas com Brasília durante os governos Lula e Dilma.

Com o PT na Presidência, o ex-presidente Hugo Chávez contou com o apoio brasileiro para solucionar as principais crises políticas. Durante os violentos protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro no início do ano, a diplomacia brasileira também teve um papel importante para dirimir a crise.

Para o analista político Javier Biardeau, professor de sociologia da Universidade Central da Venezuela, uma (eventual) derrota de Dilma seria um fator adicional de instabilidade internacional para o governo venezuelano porque perderia um apoio regional fundamental.

Outro elemento de preocupação para o chavismo está na continuidade do processo de integração regional no âmbito da Unasul, Celac e Mercosul. “O Brasil foi fundamental para a integração regional nos últimos anos (do governo) Dilma e ela representa a continuidade desses processos” afirmou o deputado do partido governista PSUV Yul Jabour, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional.

A oposição venezuelana, por sua vez, não esconde seu anseio de ver o PT derrotado. A relação entre o partido e o governo venezuelano é visto pela direção anti-chavista como um elemento de desequilibrio e, em determinados momentos, favorece o projeto bolivariano.

Aécio Neves recebe a maior torcida no interior da aliança opositora MUD, apoio herdado pela proximidade do PSDB aos grupos opositores ao longo do governo Chávez.

O analista internacional Carlos Romero afirma que a maioria dos partidos opositores “desejam” uma aliança com um programa conhecido e com ideais compartilhados, como é o caso do PSDB, à incógnita que representa a candidatura e o projeto de Marina.

— A oposição seria feliz com uma vitória de Neves, porque não está convencida da postura de Marina em relação à Venezuela.

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